quinta-feira, 21 de abril de 2011

Marlui Miranda (por Leandro Rocha)


Um jasmim para cada pétala de tua voz.
Uma gota de orvalho ao invés de lágrimas escorrendo.
Tupã fala com as folhas.
Deixa-as pasmas e sonoras com sua presença de chuva iluminada.
A cada gota vidas e vidas brotarão.
No solo sagrado, pés pisando o rito da cerimônia.
Tupã rarouá Tupã!
Tupã rarouá Tupã!






MARLUI MIRANDA

* Caio Lopes *

Cantora, compositora e musicóloga, a cearense Marlui Miranda é figura singular no panorama musical mundial. Desde menina no seio da família, sempre teve com a música uma relação de prazer.


Morando em Brasília, começa a estudar violão desde cedo. O panorama cultural efervescente de boa música instrumental que havia em Brasília, desperta a menina para o gosto pelo instrumento e logo larga a faculdade e parte para o Rio de Janeiro para viver de música. Começa a cantar com o papa da música instrumental Egberto Gismonti e logo conhece Taiguara, passando a fazer parte da banda como guitarrista e viajando por todo o Brasil.

Intensifica seus estudos de violão e faz parte da banda de Jards Macalé. Começa a compor e ter músicas gravadas por intérpretes como Nei Matogrosso e participa da vida cultural da cidade nos anos duros da ditadura, integrando o criativo grupo Academia de Danças, de Egberto Gismonti, viajando por todo Brasil.

Então Marlui viaja até Rondônia, em 1978, e tem sua primeira experiência com os índios locais que lhe despertam para uma viajem de seis meses pelos rios locais, estudando os hábitos dos indígenas e convivendo com eles. Vivenciou na prática a relação dos índios com a natureza, experiência irreversível pra ela que sentiu a necessidade de registrar o repertório daquele povo.

Já com um disco festejado pela crítica – o ótimo “Olho D’água”, com participação do Grupo Academia de Danças –, ela lança outro LP que se chama “Revivência”, disco independente. Em seguida vem “Paiter Merewá”, que retrata os índios Suruís, com repertório dos próprios índios e com eles como protagonistas. Experiência ousada dessa inquieta artista que compunha também trilhas para filmes como “Jarí", de Jorge Bodanszki, e "Povo da Lua, Povo Sangue", de Cláudio Andujar. Em 1985, outro disco: “Rio Acima”.

Recebe bolsa de várias instituições para intensificar seus estudos sobre a cultura indígena, instituições essas no Brasil e no exterior. Em 1990 teve participação como supervisora musical e solista do filme "Brincando nos Campos do Senhor", de Hector Babenco.

No ano de 1992, ficou responsável pela recriação da música indígena na obra "Ópera dos 500", de Naum Alves de Souza e Grupo Pau Brasil, tendo atuado também como solista. No ano seguinte, ao lado do grupo Pau Brasil, compôs a trilha sonora do documentário "Arawetê", ou seja, Marlui fica então tomada pela cultura indígena e começa a se tornar uma autoridade no assunto. Lança o disco “IHU - todos os Sons”, com música e sons dos povos indígenas brasileiros, que virou especial da TV Cultura e que foi editado na Alemanha.

Realizando shows por várias partes do mundo, recebe o Prêmio Sharp como melhor grupo Instrumental, juntamente com o grupo Pau Brasil, que integrava. Em seguida apresentou na Catedral da Sé (São Paulo), por ocasião dos 400 anos da morte do Padre Anchieta, a missa indígena “Kewere: Rezar”, que Marlui considerou uma catequização ao contrário, visto que os Jesuítas chegaram e catequizaram os índios com sua cultura e religiosidade e nessa missa a idéia central foi a contraposição de crenças: de um lado cantos de pajés, de outro cantos cristãos dentro da liturgia, acomodados dentro da mesma composição. Esse disco também foi lançado fora do Brasil.

Grava em 1999 com Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter o disco “Céu de Oslo”, com composições suas e desses compositores. Em 2000 foi lançado o filme "Hans Staden", de Luís Alberto Pereira, com trilha sonora de sua autoria.

Desde então Marlui, referência mundial em cultura indígena, vem proferindo palestras, escrevendo livros e mostrando ao mundo a riqueza daqueles povos que tem muito a ensinar às sociedades ditas “modernas”, que insistem em massacrar os povos considerados “mais fracos” e não se dispõe a aprender com quem já estava na terra antes da chegada dos mesmos colonizadores. Fica a pergunta: "que tipo de avanço queremos?".



* produtor cultural; comunicador. Produz e apresenta o programa "Vozes do Brasil" (terça-feira às 21h, na Rádio COM 104.5FM) – Pelotas/RS.


Fonte: http://www.3milenio.inf.br/059/_arte59a.htm
 
Baixar cd:

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