sexta-feira, 22 de abril de 2011

A dificultosa pauta do Teatro Riachuelo

Está arriscado aos produtores mergulharem de cabeça em alguma atração no Teatro Riachuelo. É preciso coragem e muito tino comercial e midiático. As pautas estão praticamente lotadas para maio e junho. E vem a pergunta básica: será que há público para tudo isso? Difícil é saber qual serão as escolhas da galera para o mês. Se a aposta do produtor for errada, o prejuízo ultrapassa os R$ 10 mil facilmente.
Em abril foram/serão mais de 12 shows. É muita coisa. Senão, vejamos: Seu Jorge, João Bosco, Zé Lezin, Lobão, Cidade Negra, César Menotti e Fabiano, a comédia Os Melhores do Mundo, e os próximos Paula Fernandes (20), Katreva Decupuar (23), Geraldo Azevedo (29), e fecha com Emílio Santiago (30). São atrações quase conjugadas. Às vezes, de mesmo apelo comercial.
Em maio já foram confirmados Celtic Legends (6), Ney Matogrosso (7 e 8), Djavan (18), o musical A Bela e a Fera (21 e 22), Fafá de Belém (26) e show de abertura com Dodora Cardoso, uma dupla que nunca ouvi falar: Rafael Zulu e Thiago Gagliasso (28), e Pafo Fu (29). Isso até agora! Em junho, também confirmados: Zizi Possi (9), Tom Cavalcanti (10 e 11), Maria Gadu (17) e Adriana Calcanhoto (18).
Como sabemos, os preços são salgados, por maior que seja a excelência ofertada em termos de som, conforto e segurança. Não é difícil imaginar um público dividido entre Maria Gadu e Adriana Calcanhoto. Então, analisemos os riscos para um produtor corajoso em apostar em show no TR:
O preço mínimo da pauta é R$ 8 mil mais uma porcentagem de 10 a 15% sobre o lucro. Tomemos o exemplo de Adriana Calcanhoto. Seu cachê é de R$ 30 mil. Considerado barato! O ingresso, imagino, será de R$ 80 (inteiro) e R$ 40 (estudante e idoso). Coloquemos no TR com capacidade para 1.470 pessoas (incluindo convidados), mil pagantes e uma média de R$ 60 o ingresso. Dá R$ 60 mil.
Dos R$ 60 mil, R$ 30 mil vai para o artista. Sobram R$ 30 mil. Desses, R$ 8 mil é da pauta mínima. Sobram R$ 22 mil. Coloquemos nos 10% em cima do lucro exigido pelo Teatro, o que daria R$ 6 mil. Sobram R$ 16 mil. Inclua agora Ecad, ISS, despesa de mídia e equipamentos. O produtor levaria aí em torno de R$ 10 mil – um bom dinheiro, é verdade.
Mas analisemos: Adriana Calcanhoto coloca mil pessoas no TR com tanta atração no mesmo mês? E se o TR cobrar 15% em vez de 10%? E se o ingresso for R$ 60 (inteiro)? Se colocar R$ 100, diminui a chance de lotação. E também convenhamos: o cachê cobrado pela artista é barato em comparação com as grandes estrelas da MPB. A própria Maria Gadu, mais na mídia, é R$ 35 mil. Seu Jorge veio por R$ 50 mil – também barato pelo nome que tem.
Zé Dias trouxe João Bosco no início de abril. Um dia antes foi Cidade Negra. Um dia depois foi Lobão. Cobrou R$ 100 (inteiro) e R$ 50 (meia). Amargou o público de menos de 500 pessoas e um prejuízo acima de R$ 10 mil. São apostas. Muitas vezes de sucesso, mas sem muito lucro. E outras erradas, com prejuízos consideráveis. É a regra de mercado do TR. É uma empresa. E ponto.

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