sexta-feira, 22 de junho de 2012

A vida pelas paredes

Fonte: Jornal Tribuna do Norte
Yuno Silva - Repórter 

Investigar o comportamento do corpo quando contraria a lei da gravidade e transformar o resultado em arte é o desafio que move a Companhia Suspensa, de Minas Gerais. Em Natal para ministrar oficina e apresentar, em segunda mão, o espetáculo "Visto de Cima", a dupla de bailarinos acrobatas Patrícia Manata e Lourenço Marques desembarcam na Casa da Ribeira, nesta segunda-feira,  propondo novas perspectivas de encarar as relações estabelecidas com o mundo ao redor. Suspensos por cabos, os artistas - literalmente - dançam na parede e criam uma atmosfera de ilusão, vertigem e leveza.
Guto MunizSuspensos por cabos, bailarinos acrobatas Patrícia Manata e Lourenço Marques dançam e criam atmosfera de vertigem, leveza e ilusão.Suspensos por cabos, bailarinos acrobatas Patrícia Manata e Lourenço Marques dançam e criam atmosfera de vertigem, leveza e ilusão.

O grupo estreou "Visto de Cima" no mês de maio, em Belo Horizonte, e a capital potiguar é a segunda cidade a receber o espetáculo. Na segunda-feira (25), Patrícia e Lourenço ministram a oficina "Objeto de Voo" e compartilham com 15 artistas do RN (selecionados pela equipe da Casa da Ribeira) a pesquisa "Sem os pés no chão", iniciada em 1999 e que trata da instabilidade do corpo; nos dias seguintes (26 e 27), encenam a montagem que transita na fronteira entre o circo e a dança. A abertura das apresentações em Natal será feita pelo Coletivo ES3, que exibe a performance: "Não Conheço Nenhuma Razão para Amar Senão Amar".

"A cada novo projeto utilizamos uma técnica diferente", informou Patrícia Manata ao VIVER. Ele chama atenção para o fato do equipamento de escalada e rapel estar sendo usado pela primeira vez pelo grupo. "Como a dança acrobática ainda é uma área a ser bastante desbravada, admite-se muitos experimentos", avalia a artista mineira. Em mais de dez anos de pesquisa, a Companhia Suspensa já criou espetáculos com trapézio, tecido, cadeiras penduradas, plataformas suspensas, bancos "ou mesmo uns sobre os outros".

Patrícia contou que as pesquisas começaram dentro da Escola Popular de Circo de Belo Horizonte, onde Patrícia e Loureço fizeram parte da primeira turma a concluir o curso de formação. "Provocar alterações nas condições ordinárias do corpo é uma proposta que instiga não só o processo criativo como levo o público à reflexão", observa a bailarina-acrobata. "E é a partir  dessa matriz que idealizamos os espetáculos". Como em outras montagens da Companhia, cenário, figurino, trilha sonora e iluminação fazem parte de um contexto, e a movimentação dos bailarinos em cena desconstroem a sapiência de onde está o chão.

"Visto de Cima" tem 30 minutos de duração e a intenção é criar no espectador, como o próprio nome indica, uma mudança de perspectiva, proporcionando uma ilusão de perda de referência. "Dessa forma, entre corridas e saltos, chão e parede se invertem e os movimentos cotidianos são retrabalhados a partir de tensões de relações entre os corpos e os diferentes planos", explicou Patrícia. 

A Companhia Suspensa é formada por três bailarinos e mais três pessoas da equipe de produção e ceno-técnica. Durante sua trajetória o grupo já montou os espetáculos "Pouco Acima" (2004), "De peixes e pássaros" (2009), "Alpendre" (2010) e "Enquanto tecemos" (2011); contabiliza recebimentos de prêmios e participações em festivais.

Além de conceber espetáculos, os mineiros da Companhia Suspensa desenvolve projetos que incluem diálogos com outros artistas, cursos e oficinas direcionados aos estudantes, artistas e interessados em práticas corporais e de criação. O grupo também trabalha na construção de intervenções e performances, sempre apontando para o pensar a cena como um campo aberto a leituras, diferenças e estranhezas - "habitar o avesso do habitual".

Parceria com grupos de Natal

Adepta da interação e troca de experiências, a passagem de "Visto de Cima" por Natal traz à tona o interesse da Companhia em estreitar laços com a direção da Casa da Ribeira e o Coletivo ES3 de performance. A Suspensa escolheu Natal por indicação do grupo mineiro Armatrux, que já passou pela Casa da Ribeira. "Como estamos articulando um seminário em Minas Gerais sobre gestão cultural, redes e sustentabilidade, queremos promover esse intercâmbio, colher experiências e convidar a Casa para participar do evento", adiantou Patrícia Manata. 

De acordo com ela, outro motivo para escolher o RN como segundo palco para o novo espetáculo é a interação com o Coletivo ES3. Como o grupo mineiro acabou não conseguindo viabilizar sua vinda para Natal participar da segunda edição do Circuito Bodearte de Performance, realizada em maio pelo ES3, "a vontade de vir só aumentou". "Trabalhamos muito com outras companhias e o Nordeste ainda é distante, quase um outro país, então não é só para se apresentar, estamos indo criar laços com os grupos daí", confessou Patrícia. 

A vinda da Companhia Suspensa a Natal foi viabilizada através do edital Vivo EnCena, programa cultural da telefônica Vivo para as artes cênicas. No segundo semestre o grupo estará de volta ao Nordeste para apresentações em Fortaleza e Recife.

Projeto C.A.S.A nasceu do encontro com o Armatrix

Desde 2007, a Companhia Suspensa constrói em Nova Lima, município da Grande BH, com o grupo Armatrux, o Centro de Arte Suspensa Armatrux - C.A.S.A. Em atividade desde 2009, mesmo sem estar totalmente concluído, o Centro já funciona como um espaço para pesquisa, oficinas e experimentos. "Temos feito bastante vivência, inclusive com grupos internacionais. Essas atividades servem para conhecermos não a comunidade onde estamos inseridos como também as próprias possibilidades do espaço", informou Patrícia Manata. "A cada etapa concluída da obra, fazemos uma ocupação. Essas atividades têm sido extremamente importante para nossa relação com outros artistas que também estão se estabelecendo nas redondezas".

Serviço

Oficina "Objeto de Voo", dia 25; e apresentação do espetáculo "Visto de Cima", dias 26 e 27 de junho, com a Companhia Suspensa na Casa da Ribeira. Ingressos R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações: 3211-7710.

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