Jornal Tribuna do Norte
Yuno Silva - repórter
A constante construção, desconstrução e reconstrução musical de Gilberto Gil, um dos responsáveis pelo processo de modernização da música popular brasileira desencadeado no final dos anos 1960, ganha ares rebuscados no show "Ensaio Geral - Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo", a ser apresentado hoje (31/03), às 21h, no Teatro Riachuelo. O projeto confere a oportunidade de apreciar um repertório de grandes sucessos com uma roupagem mais sofisticada e erudita - característica alcançada, principalmente, pela presença luxuosa do arranjador e maestro Jaques Morelenbaum, que também toca violoncelo durante o show.
Pedro VilhenaDistante
da polêmica política cultural, Gilberto Gil fala ao VIVER sobre novo
disco, mercado musical e turnê pelo norte dos Estados Unidos.
Morelenbaum acompanha Gil (voz e violão), o filho do cantor Bem Gil (violão e guitarra), o violinista e rabequeiro Nicolas Krassik e o percussionista Gustavo di Dalva, igualmente responsável pelas batidas eletrônicas que emolduram o quinteto em determinados momentos. Prestes a completar 50 anos de carreira, Gilberto Gil buscou no som lúdico das cordas a inspiração para um espetáculo original e intimista.
"Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo" vem sendo pensado desde 2006, quando o baiano circulou com o espetáculo de voz e violão "Gil Luminoso". Na época, já contava com o reforço do filho guitarrista, e o encontro acabou gerando outro projeto: o álbum "Banda Dois", de 2009. É aí que entra Jaques. A trilha sonora impecável do trio ganhou um tom ainda mais desafiador com a chegada do violinista Krassik, herdeiro da tradição francesa de violinistas de jazz dedicados à música brasileira, e do percussionista Gustavo di Dalva. Este último, por sua vez, já acompanhava Gil e trouxe para incrementar o som do conjunto um universo rítmico de máquinas eletrônicas, favorecendo o encontro entre o moderno e o antigo, entre o pop e o regional, uma subversão original e irresistível, é marca do trabalho de Gilberto Gil.
"Concerto de Cordas..." estreou em maio deste ano, com presença de orquestra de 40 músicos, nos palcos do Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo, e para viabilizar turnê nacional do espetáculo optou-se pelo formato enxuto. O quinteto fará poucas apresentações de "Ensaio Geral - Concerto..." entes de voltar à configuração inicial, ou seja o show de amanhã é um convite à imersão entre frases musicais melódicas e a voz marcante voz de Gil, que concedeu a seguinte entrevista ao VIVER:
Serviço: Show "Ensaio Geral: Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo" de Gilberto Gil. Hoje (31/03), 21h, no Teatro Riachuelo. Ingressos à venda na bilheteria do teatro por R$ 160 e R$ 80 (meia)
ENTREVISTA
GILBERTO GIL
TRIBUNA DO NORTE: Gil, o repertório do show "Ensaio Geral: Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo" traz músicas inéditas ou a grande novidade é o formato da banda?
GILBERTO GIL: O repertório mistura músicas de vários períodos de minha já longa carreira e algumas inéditas. O formato e a sonoridade desta formação, possibilitaram muitas novidades mesmo nas músicas mais conhecidas do meu repertório.
Você vem com quinteto completo: Bem Gil, Jaques Morelenbaum, Krassik e Gustavo di Dalva?
Pois é, um quarteto e mais eu de voz e violão. Um quinteto, portanto.
Uma das características do seu trabalho é a experimentação, a renovação. Compor é um exercício diário para você?
Não é um exercício diário, mas quando acontece é irresistível. A experimentação e as novidades no meu trabalho vem de uma inquietação que acho que é o que move o artista.
Desde 2006, com o lançamento de "Gil Luminoso" (voz e violão), você tem intercalado discos intimistas com outro mais, digamos, extrovertidos - ora com banda ora voz e violão(ões). Esse "risco" (entre aspas) funciona como uma espécie de combustível para sua música?
Gosto de fazer uma turnê com um espetáculo, intercalar outro show no meio, voltar ao formato banda, voltar ao formato voz e violão... Este ano, por exemplo, teremos esse espetáculo que apresento agora em Natal e que levarei em julho para a Europa e em setembro para países da América Latina. Já em outubro e novembro, levo o (novo disco) "Fé na Festa" aos Estados Unidos e México, ainda ainda mostrei esse trabalho de que tanto gosto aos americanos do norte.
Muito se fala em pirataria, que a indústria fonográfica acabou, dos empregos perdidos de um lado e a geração de novos por outro etc. Dentro desse novo contexto midiático, como enxerga o futuro do mercado musical?
O mercado musical sempre existirá pois a música vai seguir o seu caminho independente dos meios de se difundi-la ou vendê-la. Não me preocupo muito com isso pois tudo é muito novo e mutante no mundo digital.
A partir desse entendimento (das perspectivas de futuro), como um artista da nova geração pode se destacar nesses tempos de internet, downloads, instantaneidade e redes sociais? Será cada vez mais difícil aparecer novos Caetanos e Gilbertos no cenário da música brasileira?
Acho que os novos artistas tem uma infinidade de possibilidades, de surgir muito maiores do que quando os "Caetanos e Gilbertos" surgiram. Hoje se grava um trabalho no quintal de casa, se divulga sozinho via redes sociais, se tem acesso ao trabalhos de terceiros via downloads...
E como ficará a relação compositor x direitos autorais dentro dessa ótica?
Isto ainda está sendo estudado de modo a preservar a autoria da canção e ao mesmo tempo das acesso a ela por todos.
Qual sua avaliação da atuação do Ministério da Cultura nesta atual gestão Dilma Rousseff? Avançou ou muita coisa foi desfeita?
Não tenho acompanhado muito de perto a atual gestão do MinC, mas tenho a impressão que a Dilma está satisfeita.
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