Os Clowns de Shakespeare são um grupo de pesquisa teatral da cidade de Natal, Rio Grande do Norte que vem investigando, desde 1993, como linha principal do seu trabalho, a comicidade na obra do dramaturgo William Shakespeare. Por que fazer Shakespeare, hoje, aqui? Por que trazer essa obra, destinada a um público de quatrocentos anos atrás, para um público do outro lado do oceano, nos palcos do nordeste do Brasil, em pleno início de século XXI?
A resposta pode começar a ser encontrada pelo nosso nome. O batismo do grupo veio a partir de Manuel Bandeira, em sua Poética, que contesta a arte puritana conclama por poesia verdadeira:
Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente [protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário [o cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si [mesmo. De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante [exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes [maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungentes dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. |
E essa foi a essência do nosso surgimento: sob a visão do clown, subvertedor da lógica do senso comum, que transforma o problema em presente, que vê o mundo de uma maneira inocente e lírica, encantando e fazendo rir, e por essa via destilando toda a sua acidez crítica, não pela via do combate, mas pelo caminho do riso.
Essa idéia se fortaleceu ainda mais no encontro com Adelvane Néia, nossa mãe-clown, revolucionadora da nossa arte e de nossas vidas, que trouxe consistência a essa visão, ao introduzir a técnica de clown ao grupo. Mesmo sem utilizar essa técnica na maior parte dos nossos trabalhos, a essência do clown, desde então, está presente em tudo o que fazemos. Desde os elementos técnicos, de tempo, de olhar, de relação com a platéia, até esta forma “pessoal e intransferível” de ver o mundo, sempre pela lente distorcida do lirismo, o clownesco é característica marcante do nosso trabalho de ator.
Assim é que caminhamos por estes doze anos de vida. Respeitando a genialidade do bardo inglês, porém fugindo de uma abordagem museológica, castradora, morta de trabalhar com sua obra. Buscando uma apropriação daqueles elementos que nos são vivos, significativos, fazem sentido, colocando o velho Shakespeare em diálogo com nossos poetas populares, com o nosso cotidiano-urbano-globalizado, mesmo no nordeste do Brasil, e propondo uma nova salada com esses ingredientes. Não temos nenhuma pretensão de reinventar a roda, no entanto é claro para nós que queremos encontrar uma forma nossa de fazê-la girar.
Um Shakespeare com sotaque nordestino.
Um Shakespeare com tempero potiguar.
Um Shakespeare com tempero potiguar.
Muito Barulho em Sampa I
Primeiros registros da temporada em Sampa, no Sesc Anchieta.
Sua incelença, Ricardo III
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ResponderExcluirAbração!!!!!!!!!