quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Reflexões em cena

Jornal Tribuna do Norte

Yuno Silva - Repórter

Um ator em crise existencial; uma jovem entre as belezas e os abismos da paixão; e uma cantora que tenta se recuperar de uma tentativa de suicídio mal sucedida. Três personalidades distintas, inquietas, e um mesmo objetivo em comum: se contrapor diante da tendência asfixiante da acomodação social. Esse é o mote que conduz o espetáculo "Antes da coisa toda começar", da Armazém Companhia de Teatro, onde personagens transitam entre os impasses da vida e da morte, e mergulham junto com o público nas engrenagens que sustentam e movem o fazer teatral.
DivulgaçãoEspetáculo Antes Da Coisa Toda Começar, em cartaz no tam, de 10 a 12, aborda questões existenciais com humor caótico. 
Espetáculo Antes Da Coisa Toda Começar, em cartaz no tam, de 10 a 12, aborda questões existenciais com humor caótico.

Em cartaz de sexta-feira (10) a domingo (12), no Teatro Alberto Maranhão, a montagem dirigida por Paulo de Moraes é um convite à reflexão. "Nossa intenção é falar sobre as sensações da vida adulta, quando as pessoas se consideram poderosas e acham que podem fazer tudo. Ao mesmo tempo que abordamos o assunto a partir de várias perspectivas, desmontando qualquer fórmula pré-concebida", adiantou o diretor por telefone ao VIVER. Os ingressos antecipados estão à venda na bilheteria do TAM por R$ 20 e R$ 10 (meia), e a mini temporada em Natal é o ponto final da turnê que circulou o país com patrocínio do Programa Petrobras Distribuidora de Cultura.

O espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell de Melhor Iluminação e ao Prêmio APTR (Associação de Produtores de Teatro) de Melhor Espetáculo, Melhor Autor, Melhor Cenografia e Melhor Iluminação. A produção ainda foi lançada em formato livro e DVD em 2011. O ator Marcos Martins, que já morou em Natal, está na equipe como operador de luz.

"Antes da coisa toda começar" estreou no Rio de Janeiro em outubro de 2010 antes de cair na estrada, e seu enredo fragmentado apresenta três histórias paralelas conectadas no campo da subjetividade. "Reservamos ao espectador o papel de estabelecer essas conexões", verifica Moraes, também ator e autor do texto escrito em parceria com Maurício Arruda Mendonça. Para ele, o público se reconhece em cena: "Tratamos de questões atuais, com uma linguagem moderna", garante. Durante o espetáculo, a música é executada ao vivo e o cenário incorpora projeções audiovisuais.

Aliando o humor cáustico à fartas doses de música, a peça marca a primeira experiência do grupo em executar a trilha sonora em plena cena. O ponto de partida é a vontade em abordar a arte e a criação, evocando as primeiras sensações que um artista vivencia. Segundo o diretor, o resultado vai além e "faz com que o público em geral, artista ou não, se identifique com as emoções e contradições apresentadas pelos personagens. São personalidades complementares."

Entre as principais características do grupo está a ocupação diferenciada do espaço cênico, elemento que ganha protagonismo nesta produção. Os oito atores em cena - Patrícia Selonk, Rosana Stavis, Ricardo Martins, Paulo de Moraes, Marcelo Guerra, Verônica Rocha e Karla Tenório - surgem através de portas frontais e laterais, paredes se movem. Outro detalhe que chama atenção é a falta de limites temporais: os personagens trafegam entre o passado, o presente e o futuro. "A estrutura da narrativa dialoga diretamente com os caminhos da arte contemporânea. Uma linguagem que parte do princípio de que para se entender a complexidade do mundo atual, cada vez mais saturado e fragmentário, tornam-se necessárias novas estruturas", analisa.

O conjunto cênico cria enquadramentos inesperados, cuja moldura são plataformas que servem de palco para uma banda de rock formada pelos próprios atores, conduzidos pelo diretor musical e instrumentista Ricco Viana. "É uma montagem muito sensorial e abstrata, um espetáculo para se conhecer e reconhecer", informa Paulo de Moraes, acrescentando que a produção é considerada uma espécie de auto-biografia dos 23 anos de trajetória do grupo. "O espetáculo sintetiza a estética desenvolvida ao longo desse período."

Este é o décimo texto inédito de Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes, que desde 1995 produzem dramaturgia original, incluindo o premiado "Inveja dos Anjos" (2008). Nos últimos anos, o Armazém dedicou-se a montagens de Bertolt Brecht ("Mãe Coragem e seus Filhos") e Nelson Rodrigues ("Toda Nudez será Castigada"). Após estas realizações, a companhia retomou o caminho da dramaturgia própria com "Inveja dos Anjos", que conquistou o Prêmio Shell de Melhor Texto (Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes) e Melhor Atriz (Patrícia Selonk).

SINOPSE

"Antes da coisa toda começar" mostra o espectro de um ator (interpretado por Ricardo Martins) começa a materializar suas lembranças corporificando a memória. Dessa corporificação, surgem três personagens que espelham as facetas de seu eu. São três personagens que enfrentam impasses decisivos diante da vida.

Serviço

Espetáculo "Antes da coisa toda começar", com a Armazém Companhia de Teatro. Direção de Paulo de Moraes. Dias 10 e 11 às 21h, e dia 12 às 20h, no Teatro Alberto Maranhão - Ribeira. Censura: 16 anos. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações 3222-3669

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