Depois do Chile, 'Clowns' pensa na Europa
Marcílio Amorim
Do Chile, especial para o VIVER (Jornal Tribuna do Norte 26 de Janeiro de 2012)
O ano de 2012 começou acelerado para o grupo potiguar Clowns de Shakespeare. Os teatreiros mais bem sucedidos de nossa cidade colocaram o Brasil dentro da mala e carimbaram o passaporte rumo ao Chile para dez apresentações no Santiago a Mil, uma das mais importantes mostras de teatro da América Latina.
Rafael TalesOs teatreiros potiguares fizeram dez apresentações no Chile.
Para chegar até aqui, os meninos dos Clowns tiveram que vencer a questão da língua (o espetáculo foi remontado em espanhol); algumas barreira alfandegárias (parte do cenário foi reconstruído em Santiago) e o desafio de abrir uma roda de teatro em um país estranho.
Apresentações com casa cheia, sucesso de crítica, elogios da equipe técnica chilena e o público respondendo ao espetáculo em tempo real, fizeram da passagem de "Su Excelencia Ricardo III" (o título 'Sua Incelença Ricardo III' foi traduzido para o espanhol) no Chile uma bela jornada. Os Clowns de Shakespeare brilharam ao lado do Théâtre du Soleil (França), da La Patogallina (Chile), Cia Titanick (Alemanha) e do Teatro Butoh (Japão), entre outros.
Para Fernando Yamamoto, diretor do grupo, a experiencia de participar do Festival Santiago a Mil "foi incrível" e enumera os pontos mais comemorados pelo grupo. "A questão do espanhol era o que mais me preocupava e foi o mais fácil. Tínhamos medo que a qualidade e a característica das cenas se perdesse na racionalização do idioma e isso nao aconteceu.", relata Fernando. "Após circular com o espetáculo de Acari a Porto Alegre, tínhamos segurança quanto à sua força. Queremos girar com o Ricardo III por mais dez anos", confessa.
E convites não faltam para isso. Uma das características do festival Santiago a Mil é a presença de curadores de festivais de teatro do mundo inteiro, que circulam por aqui em busca de produções para levar aos seus países. Os Clowns de Shakespeare foram contatados por curadores dos festivais de Miami, Paris, Espanha e Equador. "A montagem do espetáculo em espanhol abre muitas possibilidades de apresentações internacionais. E o teatro de rua tem a vantagem de poder ser levado para qualquer lugar.", disse a atriz Renata Kaiser.
"Ricardo III" girou por dez lugares diferentes do Chile, com públicos diversos e o desafio quase diário de montar e desmontar a estrutura necessária. Para isso, o grupo potiguar contou com uma equipe técnica entre brasileiros e chilenos que formaram uma verdadeira família nas três semanas de jornada. Para o responsável pelo gerador de energia, o chileno Pablo Gonçalez, estar com uma companhia de teatro brasileiro foi a sua melhor experiencia dentro do Santiago a Mil. "Já acompanhei muitas companhias de teatro e nenhuma delas se compara aos Clowns de Shakespeare. Formamos uma família durante esses dias. Sempre fazemos um churrasco para comemorar o sucesso do trabalho, com eles fizemos quatro", disse Pablo. O técnico de montagem Nacho Rodriguez agradece a oportunidade de trabalhar com os potiguares. "Agradeço a chance de conhecer e trabalhar com pessoas tão dispostas a compartilhar o seu conhecimento".
De fato, Ricardo III foi ovacionado em grande parte de suas apresentações. Não foi difícil encontrar brasileiros emocionados na plateia e ainda perceber a satisfação dos chilenos com a montagem de uma das mais sanguinárias tragédias de William Shakespeare. "No Brasil já temos um certo reconhecimento. Aqui éramos totalmente desconhecidos e nos surpreendeu o resposta do público ao nosso trabalho. O público chileno é muito inteligente e educado, em alguns casos a resposta ao espetáculo foi bem mais rápida do que em muitos lugares que passamos no Brasil.", revela Yamamoto.
A plateia dos Clowns contou com uma pequena caravana potiguar. A violinista Tiquinha Rodrigues veio ao Chile e vivenciou um pouco das apresentações por aqui. "Em Natal ainda esperamos pelo reconhecimento verdadeiro ao nosso fazer artístico. Dentro de nossa casa muitas vezes ficamos tristes, fracos e desmotivados com as dificuldades que enfrentamos para sobreviver da nossa arte. Vim ao Chile para renovar as minhas esperanças e aqui descobrir, através do carinho dos chilenos para com o trabalho dos meninos, que estamos no caminho certo. Um dia os natalenses irão aplaudir a sua arte como os chilenos aplaudiram os Clowns.", conclui a potiguar integrante da banda Rosa de Pedra. O Festival Santiago a Mil é um projeto da Fundação Teatro a Mil aconteceu entre os dias 03 e 22 de janeiro, com grupos chilenos japoneses, chineses, espanhois, franceses, alemães, belgas, brasileiros e italianos em espetáculos gratuitos ou de baixo custo para o grande público. Nesta ediçao, representaram o Brasil os espetáculos "Sua Incelença Ricardo III" (RN) e o espetáculo "Rainhas" (SP).
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