De Sérgio Vilar para o Diário de Natal
Em Natal há fatos inexplicáveis. Pouca gente argumenta o porquê de tantos poetas e tão poucos prosadores. Na música, a situação é parecida, quase uma metáfora: há um sem número de instrumentistas virtuosos de fama internacional, mas intérpretes a contar nos dedos e presos na redoma quase intransponível deste Rio Grande de Poti. Os irmãos Roberto e Eduardo Taufic são exemplos clássicos. Amanhã lançam o primeiro CD juntos na Escola de Música da UFRN (às 18h e 20h). Só música instrumental. E depois voam pelo mundo afora.
Os dois conhecem cenários musicais brasileiros e europeus, mas não explicam essa tradição local. Talvez o violoncelo de Aldo Parisot tenha navegado além da Ribeira, naquele início de século 20. Ou as modinhas de Lourival Açucena e outros seresteiros tenham deixado um lirismo musical nos ouvidos e corações apaixonados da Belle Epóque natalense. O maestro Oswaldo de Souza morreu sem reconhecimento local e tocado na Europa - outro gênio da música instrumental potiguar. Royal Cinema foi apenas uma das peças de Tonheca Dantas...
Boa explicação para esse virtuosismo instrumental de tantos bambas, a exemplo de Sérgio Groove, Manoca Barreto, os irmãos Beethoven e Jubileu, Junior Primata, Gilberto Cabral, talvez sejam as décadas em que o maestro Waldemar de Almeida ministrou curso de piano em seu instituto de música, entre 1930 e 1950. Dali brotaram alunos e alunas notáveis, a exemplo do sobrinho Oriano de Almeida. E acelerado o rolo do tempo, no século 21 Eduardo e Roberto Taufic mantêm essa tradição secular da música instrumental norte-riograndense desprestigiada aqui e cheia de ecos para além-mar.
O show de amanhã coroa a carreira dos dois, iniciada ainda criança. O violonista Roberto, mais velho, foi influência direta para Dudu Taufic. E por tabela, esteve presente de alguma maneira em mais de 400 álbuns e shows em que o pianista arranjou, dirigiu ou tocou. Seja na música instrumental popular, a exemplo de Guinga e Zé Canuto, ou na interpretação de ícones da MPB:Nubia Lafayette, Elza Soares... Assinou trilhas sonoras de espetáculos, participou de festivais e recebeu prêmios internacionais, lançou dois CDs solos e fundou o Stúdio Promidia, onde produz CDs e peças publicitárias.
Roberto é hondurenho, tem descendêcia palestina e um violão brasileiríssimo. Já aos 19 anos grava o primeiro disco com o grupo Cantocalismo e abre shows de Geraldo Azevedo, Luiz Melodia e outros. Aos 24 anos estuda improvisação jazzística na Itália. Acompanhou Elza Soares em turnê nacional em 1994. E desde 1995 atua na europa como músico nos mais variados gêneros. Do pop ao jazz. Participa de festivais e álbuns de artistas renomados. Em 2003, publica o disco autoral de jazz Real Picture. Vieram ainda Um Abraço (2005), Jogo de Coddas (2006) e Eles & Eu (2010).
Bate Rebate
A sofisticação do primeiro CD autoral do duo Taufic reside no talento. Nenhuma erudição sonora. O popular está presente em cada uma das 18 faixas. Esquetes de samba, chorinho, bossa e, sobretudo, o jazz, se percebe no desenrolar do álbum Bate Rebate. Um diálogo em vários tons entre violão e piano. Lá e cá. Base e solo. Sons comungados, unidos na afinação e no improviso. Regionalismos que escapam sorrateiros ao campo universal. Riqueza no simples, e no simples, o requinte. Lamentos, conversas descontraídas, gingado, sentimentos muitos transfigurados em sons; apenas sons. E na última faixa, Roberto Taufic traz É assim - uma explicação lírica na voz da cantora Luciana Alves: "Pra mim/ A música é assm/ Sem ser, sem par, sem fim/ Que seja muito mais.../ Se depender de mim/ Sem véu, sem camarim/ Sem bom e sem ruim.../ Como quiser.../ Natural... / E me envolver/ Afinal, ser!/ Pra mim/ Ser como algum lugar/ Ser como cada um/ A música é assim..."
Entrevista >> Roberto e Dudu Taufic
Influência no estilo de ambos está presente no CD?
Dudu: Está bem eclético em termos de ritmo. Foi consequência natural da experiência de ambos; a continuidade do trabalho realizado por ambos no DVD, gravado em 2008. Foi um parto natural.
E após o show amanhã?
Dudu: Até março faremos turnê nacional. Depois, seguiremos para a Europa, já com nossa terceira turnê por lá.
Desde cedo vocês iniciaram carreira na Europa. Falta espaço e prestígio aqui?
Dudu: Não tem muita oportunidade e valorização. A consciência cultural local é pobre. Fora daqui somos valorizados como artistas de peso. E desde cedo nos acostumamos a não depender desse prestígio. Pensamos mundo. Somos muito independentes.
Qual o público vocês esperam no show?
Dudu: Temos um público fiel, formado não só por artistas e músicos. Há aquele que acompanha a carreira há um tempo, e de todas as classes sociais.
Roberto: E o disco está muito acessível. Mesmo as peças mais difíceis são tocadas com leveza.
Dudu: O intuito é tocar as pessoas. Não é mostrar virtuosismo. Queremos que entendam a arte daquela música.
Na Semana da Música houve muito interesse do público pela música erudita, quando tocada em locais populares#
Dudu: Depende do que é oferecido. Não parte do natalense o desinteresse. Vem da administração dos fundos destinados à cultura. Em João Pessoa, aqui do lado, é diferente porque há melhor distribuição da verba.
Roberto: Tocamos uma vez na Festa do Boi, no meio da rua ali, só instrumental, e se formou uma multidão. O povo tem curiosidada em ver um instrumento bem tocado.
Os dois conhecem cenários musicais brasileiros e europeus, mas não explicam essa tradição local. Talvez o violoncelo de Aldo Parisot tenha navegado além da Ribeira, naquele início de século 20. Ou as modinhas de Lourival Açucena e outros seresteiros tenham deixado um lirismo musical nos ouvidos e corações apaixonados da Belle Epóque natalense. O maestro Oswaldo de Souza morreu sem reconhecimento local e tocado na Europa - outro gênio da música instrumental potiguar. Royal Cinema foi apenas uma das peças de Tonheca Dantas...
Boa explicação para esse virtuosismo instrumental de tantos bambas, a exemplo de Sérgio Groove, Manoca Barreto, os irmãos Beethoven e Jubileu, Junior Primata, Gilberto Cabral, talvez sejam as décadas em que o maestro Waldemar de Almeida ministrou curso de piano em seu instituto de música, entre 1930 e 1950. Dali brotaram alunos e alunas notáveis, a exemplo do sobrinho Oriano de Almeida. E acelerado o rolo do tempo, no século 21 Eduardo e Roberto Taufic mantêm essa tradição secular da música instrumental norte-riograndense desprestigiada aqui e cheia de ecos para além-mar.
O show de amanhã coroa a carreira dos dois, iniciada ainda criança. O violonista Roberto, mais velho, foi influência direta para Dudu Taufic. E por tabela, esteve presente de alguma maneira em mais de 400 álbuns e shows em que o pianista arranjou, dirigiu ou tocou. Seja na música instrumental popular, a exemplo de Guinga e Zé Canuto, ou na interpretação de ícones da MPB:Nubia Lafayette, Elza Soares... Assinou trilhas sonoras de espetáculos, participou de festivais e recebeu prêmios internacionais, lançou dois CDs solos e fundou o Stúdio Promidia, onde produz CDs e peças publicitárias.
Roberto é hondurenho, tem descendêcia palestina e um violão brasileiríssimo. Já aos 19 anos grava o primeiro disco com o grupo Cantocalismo e abre shows de Geraldo Azevedo, Luiz Melodia e outros. Aos 24 anos estuda improvisação jazzística na Itália. Acompanhou Elza Soares em turnê nacional em 1994. E desde 1995 atua na europa como músico nos mais variados gêneros. Do pop ao jazz. Participa de festivais e álbuns de artistas renomados. Em 2003, publica o disco autoral de jazz Real Picture. Vieram ainda Um Abraço (2005), Jogo de Coddas (2006) e Eles & Eu (2010).
Bate Rebate
A sofisticação do primeiro CD autoral do duo Taufic reside no talento. Nenhuma erudição sonora. O popular está presente em cada uma das 18 faixas. Esquetes de samba, chorinho, bossa e, sobretudo, o jazz, se percebe no desenrolar do álbum Bate Rebate. Um diálogo em vários tons entre violão e piano. Lá e cá. Base e solo. Sons comungados, unidos na afinação e no improviso. Regionalismos que escapam sorrateiros ao campo universal. Riqueza no simples, e no simples, o requinte. Lamentos, conversas descontraídas, gingado, sentimentos muitos transfigurados em sons; apenas sons. E na última faixa, Roberto Taufic traz É assim - uma explicação lírica na voz da cantora Luciana Alves: "Pra mim/ A música é assm/ Sem ser, sem par, sem fim/ Que seja muito mais.../ Se depender de mim/ Sem véu, sem camarim/ Sem bom e sem ruim.../ Como quiser.../ Natural... / E me envolver/ Afinal, ser!/ Pra mim/ Ser como algum lugar/ Ser como cada um/ A música é assim..."
Entrevista >> Roberto e Dudu Taufic
Influência no estilo de ambos está presente no CD?
Dudu: Está bem eclético em termos de ritmo. Foi consequência natural da experiência de ambos; a continuidade do trabalho realizado por ambos no DVD, gravado em 2008. Foi um parto natural.
E após o show amanhã?
Dudu: Até março faremos turnê nacional. Depois, seguiremos para a Europa, já com nossa terceira turnê por lá.
Desde cedo vocês iniciaram carreira na Europa. Falta espaço e prestígio aqui?
Dudu: Não tem muita oportunidade e valorização. A consciência cultural local é pobre. Fora daqui somos valorizados como artistas de peso. E desde cedo nos acostumamos a não depender desse prestígio. Pensamos mundo. Somos muito independentes.
Qual o público vocês esperam no show?
Dudu: Temos um público fiel, formado não só por artistas e músicos. Há aquele que acompanha a carreira há um tempo, e de todas as classes sociais.
Roberto: E o disco está muito acessível. Mesmo as peças mais difíceis são tocadas com leveza.
Dudu: O intuito é tocar as pessoas. Não é mostrar virtuosismo. Queremos que entendam a arte daquela música.
Na Semana da Música houve muito interesse do público pela música erudita, quando tocada em locais populares#
Dudu: Depende do que é oferecido. Não parte do natalense o desinteresse. Vem da administração dos fundos destinados à cultura. Em João Pessoa, aqui do lado, é diferente porque há melhor distribuição da verba.
Roberto: Tocamos uma vez na Festa do Boi, no meio da rua ali, só instrumental, e se formou uma multidão. O povo tem curiosidada em ver um instrumento bem tocado.
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